Eu me assustei quando vi a minha agenda, tinha uma hora para chegar em uma entrevista. - Droga! - Corri para come umas bolachinhas já juntamente colocando a roupa da entrevista (vou contar que duas coisas ao mesmo tempo, nunca funcionam tão bem para mim).
Terminei de colocar a roupa, corri para o banheiro escovar os dentes e colocar uma base na cara. Por incrível que possa parecer, levei 20 minutos para ficar pronta, chamei um táxi pelo app e desci do meu apartamento para esperar.
Comecei errado né? A protagonista deve se apresentar, dizer no que trabalha e fazer aquele apelo de comédias românticas... É, mas essa protagonista não sou eu. Seria muita ousadia pensar que a minha vida se resumiria em romance, pode até ter comédia, mas está mais para um drama de uma moça trintando. Não tenho a crise dos trinta, mas minha família e amigos se preocupam por eu ainda não ter encontrado o meu "par perfeito", cá entre nós caro espectador, a vida não se resume somente a isso e as minhas preocupações são outras. Vou te contar como cheguei até aqui.
Quando eu tinha os meus vinte e tantos anos, me apaixonei (quem nunca né?), mas não era o momento e nem o "cara perfeito" (na minha cabeça era, infelizmente) porque ele partiu o meu coração. O conheci na faculdade quando fazia o meu bacharel em Administração, ele era lindo com os seus olhos castanhos escuros, o seu cabelo preto, 1,80 de altura, queixo quadrado e ombros largos. Quem em sã consciência não iria se apaixonar? Ele estava trintando na época e palestrava sobre escrever e a forma de administrar. Eu achava incrível como ele via esse mundo. Eu e a minha amiga Lucy estávamos saindo do auditório da faculdade e o nosso professor de economia nos chamou para apresentá-lo (Lucy era a melhor aluna da nossa turma).
- Veja Dante, essa é Lucy a garota mais inteligente das minhas aulas. - Disse professor Louis.
- Olá Dante! - Disse Lucy animada.
- Olá meninas. - Disse Dante sorrindo.
- Olá. - Eu disse desanimada. Naquele momento, não estava com inveja da minha amiga, mas estava me sentindo um "peixinho fora d'água" se é que me entende. Lucy me deu um beliscão devido à minha falta de animação, retruquei com uma cutucada e comecei a rir do desespero dela. Para meu espanto, Dante não perdeu um detalhe do que estava acontecendo.
- Como você se chama? - Dante me perguntou. Eu arregalei meus olhos (os deixei maiores do que já são). Oi?
- Me chamo Kyra.
- Agora sim, todos apresentados! Gostaram da palestra?
- Amei! Como você consegue unificar os dois mundos? - Perguntou Lucy empolgada.
- Basta você gostar do que faz, aplicar as técnicas de como lidar com pessoas, empolgar a equipe e os resultados aparecem ao decorrer do tempo.
Fiquei estudando-o enquanto falava porque gosto de analisar o perfil e pouco descobri referente a sua personalidade. Ele era genial no que fazia, parecia ser popular com as mulheres (a Lucy estava babando) e estava sendo gentil com duas alunas de faculdade. Dante pareceu notar que estava sendo analisado porque me olhou com certa curiosidade. Ele piscou para mim e sorriu, algo com significado: "Sei que está me estudando".
Na mesma hora, eu levantei a minha mão num gesto involuntário e coloquei na minha testa, balançando a cabeça em forma negativa, totalmente reprovando o flagra.
- Lucy, venha comigo, eu quero te apresentar ao representante do conselho de administração. - Disse professor Louis.
- Mas professor, eu nem terminei de trocar ideias com o nosso palestrante.
- Não tem problema Lucy, nós vamos jantar juntos. Agora, venha! - Disse o professor já puxando a Lucy para longe de nós.
Eu não me aguentei com a situação e comecei a rir devido ao professor puxando a Lucy e ela fazendo birra igual criança pequena.
- Dante me olhou com certa curiosidade, se aproximou mais e perguntou:
- Você achou o que procurara?
- Oi? - Parei de rir e olhei para ele confusa. Não entendi a sua pergunta.
- Você estava me analisando. O que encontrou?
- Ahhhh... Você estava falando disso. - Falei surpresa. - Eu encontrei muito pouco, na verdade, ainda estou no processo de análise e falando profissionalmente, eu gostei de algumas estratégias que você utiliza para lidar com pessoas.
- Ahhh... Você estava me analisando profissionalmente. - Ele falou fazendo cara de ofendido. - Pensei que estava me analisando com malícia nos olhos. - Piscou para mim e sorriu.
- Capaz! Por que eu faria isso? - Sorri e dei uma piscada para ele. - Você não faz o meu tipo.
Falando assim, saí e fui conversar com João, o meu amigo de desabafos que frequentava o mesmo curso que eu e falava as coisas que eu precisava ouvir.
- Ai nossa, amiga do céu! Quanto boy bonito nessa palestra! - ele disse sorrindo.
- Amigo, nem vi tantos assim... Onde estão? - Perguntei fazendo cara de moleca, fingindo procurar entre a multidão.
- Você estava conversando com o mais bonito! Como não aproveitou a oportunidade?
- Ahhh... Não é para mim. - Eu disse fazendo careta.
- Como não é? É bonito, bem-sucedido, gentil, forma... - Não deixei nem ele terminar a frase.
- Se acha a última bolacha do pacote, é "bom" com as mulheres, cheio de trocadilhos e é um perigo para mim! Não faz o meu tipo.
- Ahhh entendi! É o famoso "quebra corações" né?
- Exatamente! Eu corri dele... Literalmente.
- Como assim? - Perguntou ele espantado.
- Eu falei-lhe que não era o meu tipo e fugi dali. - Eu disse dando risada.
- Sua covarde! Como perder uma experiência dessas?
- Ué, assim o meu coração fica intacto! Tenho que focar nos estudos, já não sou a melhor aluna da sala, as oportunidades não aparecem do nada. Eu tenho que criá-las.
- Entendi (covarde), mas, você vai ao jantar da turma?
- Vou tentar correr dele, não sou tão boa em fazer amizades.
- Vai por mim? Faz esse sacrifício? - Disse ele fazendo biquinho.
- Ahhh nãooooo, eu quero ir para o meu quarto e comer um x bem grande!
- Você está fugindo do quê? - Perguntou uma presença forte atrás de mim. Meu amigo ficou surpreso e, ao mesmo tempo babando. Bom, sobre a voz que disse, bem era o palestrante.
- Eu não estou fugindo, só não quero ir jantar com a turma! Que interesse esse seu numa aluna, sem prestígio algum pela faculdade? - Perguntei franzindo a testa.
- Bom, foi a única aluna que me disse que eu não era o seu tipo!